terça-feira, 31 de maio de 2016

Semana das Artes (Daniel Barreiros, EFA 16)

«Sempre gostei de trabalhar e desenvolver o retrato. Principalmente em pessoas mais velhas. Acredito que escondem algo no olhar, que elas próprias não querem ou não sabem como contar. Pessoas nas faixas etárias mais avançadas possuem quase todas, esse olhar único, um olhar que só de observarmos, nos proporciona uma história que nos entra e contagia, se tivermos a mínima paciência para a observar e entender, é claro. Em Portugal é bastante fácil de encontrar pessoas com esse olhar. Aliás, Portugal é um país antigo e de antigos. Um país com bastante história e uma vasta cultura que se reflecte na psicologia das pessoas.» (Daniel Barreiros)


Figura 1 – “Uma vida inteira” pastel seco sobre mdf, pintura de Daniel Barreiros
Pintura final da minha primeira exposição, denominada de “Gerações”. Trabalho que representa o fim da exposição, o fim da vida ou talvez a continuação de algo.

Figura 2 - “Aqueles dias” pastel sobre mdf, pintura de Daniel Barreiros
Pintura em homenagem ao meu Avô materno, uma das pessoas mais sábias que alguma vez conhecerei em toda a minha vida. 

Neste trabalho tentei extrair ao máximo todo o ser inteligente e paciente que o meu avô representa, com o olhar em direcção ao horizonte de como quem vê mais do que aqueles  que o rodeiam.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Semana da Leitura (EFA 18)

No âmbito da “Semana da Leitura”, e designadamente durante a Palestra: “À ESPERA DE ABRIL – COM POESIA DE MANUEL ALEGRE”, dinamizada de forma singular pela professora Ana Albuquerque, em colaboração com BE/CREAP, os formandos do EFA 18 participaram empenhadamente na leitura expressiva do poema “Letra para um Hino” de Manuel Alegre.

Durante a Semana da Leitura outras três formandas do EFA 18 (Ana Bela; Elisa e Tânia) disponibilizaram-se também para participar na Semana da Leitura com a leitura de dois poemas em quatro salas de aula do ensino diurno: “Porque” de Sophia de Mello Breyner Andresen e “Certas Palavras” de Carlos Drummond de Andrade.
Algumas reflexões:
“Se a ideia de apresentarmos publicamente um poema tenha causado algum embaraço inicial, após alguns ensaios depressa se esvaneceu. Desta experiência resultou uma interação muito positiva com o público, tendo favorecido sem dúvida a nossa autoestima e a nossa confiança em palco.”
“A maneira como nos organizamos e interagimos teve especial importância, essencialmente pelo uso de outros recursos na apresentação, como os movimentos bem sincronizados para enfatizar uma determinada imagem do texto (o valor metafórico que algumas palavras podem adquirir no ato da criação poética, «Os teus olhos nasceram para olhar os astros»).
“Destacamos ainda os conhecimentos construídos ao longo de toda a preparação destas leituras com a sugestão de comentários, enfatizando o que cada colega revelou de positivo na sua apresentação e fornecendo dicas do que poderia ser melhorado até à apresentação final do poema”.
“Sobre a palestra esta foi conduzida de forma enriquecedora pela Dr.ª Ana Albuquerque com a participação de alguns elementos do público que leram entusiasticamente poemas de Manuel Alegre, intercalados, de forma harmoniosa, com as sábias palavras da palestrante.”
“A poesia de Manuel Alegre é uma expressão de sentimentos diversos e por vezes contraditórios, desde a revolta, a passividade, até à recuperação da esperança e da confiança. Ao longo de toda a sessão foram notáveis os efeitos sonoros em determinados poemas; a musicalidade gerada por meio da repetição de sons; os diferentes sentidos pela repetição de palavras ou versos, ou até por recursos como metáforas, comparações e imagens sugestivas.”
 “Gostamos muito de ter participado nesta tertúlia e na Semana da Leitura, pois escutar e assistir aos poemas apresentados junto com outras pessoas, faz a mensagem ter outras conotações. É assim uma espécie de um jogo, um ritual, uma terapia coletiva, um manifesto. Obrigada!”

Formandos EFA 18 (Ana Bela; Andressa; Guilherme; David; Edgar; Elisa; Filipe; Mónica; Rafael; Sandra; Tânia; Marília e Hugo)

Consciência ambiental, para quando? (EFA 18)

No âmbito das disciplinas CLC2 – Culturas Ambientais (DR1 – Os Gastos Energéticos - Consumo e Eficiência Energética) e CP - Cidadania e Profissionalidade, os formandos do curso de Educação e Formação de Adultos 18 redigiram um artigo intitulado “Consciência ambiental, para quando?” para publicação no jornal escolar Entre Nós.


O modelo de vida das famílias hoje em dia implica elevados níveis de consumo energético, daí ser indispensável uma consciencialização sobre o tema, para que se poupe no orçamento familiar ao mesmo tempo que se promove a prevenção ambiental.
Durante milénios o Homem cultivava os bens da sua subsistência, não necessitava de coisas supérfluas nem questionava as suas necessidades. Avaliava todos os atos de consumo e a compra na feira era sempre um acontecimento social. Hoje, o consumidor atual pensa de modo bem diferente e tem, sem dúvida, outros horizontes de consumo.
Com efeito, terá sido o fabrico em série que estabeleceu que, nesta nova sociedade, o mais difícil não seria produzir bens e serviços, mas criar consumidores. A partir daqui nasceu a sociedade de consumo associada à produção em série, o único objetivo era fabricar produtos.
Os bens antigamente eram comprados para durar e para satisfazer unicamente as necessidades mais básicas, agora o consumo da sociedade atual é “descartável” e exagerado. A aquisição de telemóveis, por exemplo, já não tem a ver apenas com a satisfação de um bem estritamente necessário, mas sim porque “nasceu” um modelo mais recente.
Embora as energias renováveis sejam uma solução, não resolvem todos os problemas se a sociedade atual mantiver os mesmos hábitos de consumo. Torna-se essencial gastar o menos possível energia. É preciso consumir de forma diferente, ter mais informação sobre os produtos – os seus custos e os seus impactos ambientais.
É neste cenário que nasce a ideia de responsabilidade dos consumidores e se apela para uma urgente mudança de comportamentos. Porque mais do que sensibilizar e informar, é preciso aprendermos a mudar agora - POUPANÇA E PREVENÇÃO.

O meio ambiente agradece.

TEATRO VIRIATO – VISEU (EFA 16)

No dia 20 de maio, pelas 21h 30, o EFA 16 e o EFA 18 assistiram ao espetáculo o “Misantropo”, uma adaptação do texto do dramaturgo francês Molière (1622- 1673) e encenação de Nuno Cardoso, no Teatro Viriato (coprodução Teatro Nacional São João, São Luiz Teatro Municipal, Centro Cultural Vila Flor e Teatro Viriato).
Foi com muito interesse que os formandos puderam assistir a um “Texto satírico de enorme subtileza e inegável apuro formal, O Misantropo (1666) é uma análise impiedosa da sociedade e das suas regras que se mantém surpreendentemente atual, expondo diferentes relações de poder e jogos de enganos, numa oscilação constante entre a sinceridade e a hipocrisia, entre a atração e a repulsa pelas convenções.”  (disponível em <http://www.teatroviriato.com/pt/calendario/o-misantropo/>).
As formadoras de CLC 
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Para refletir…
Haverá misantropos na sociedade atual?
Caixa de texto: Formandos EFA 16



 


Etimologicamente misantropo do gr. Misánthropos,  anthropos (άνθρωπος) que significa homem, ser humano e mis, também do grego μίσος (misos) que significa ódio. Um misantropo será então aquele «que odeia os homens»; por via culta, provavelmente francesa (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado), é um indivíduo que mostra antipatia por toda a espécie humana.
Assim, a misantropia é o estado psicológico de um determinado indivíduo que não se adapta ao sistema ou simplesmente alguém que se recusa a seguir as normas e as leis impostas.
Poder-se-á então falar de misantropos na sociedade atual?
O conceito não implica necessariamente uma forma de violência. É comum ter ódio ou aversão contra povos que são diferentes de nós, pois o contacto entre culturas diferentes gera normalmente diferentes posicionamentos e formas de estar na vida.    
Também é comum ter aversão por um tipo específico de população, como pessoas que sentem aversão a quem é pobre ou aversão a quem tem uma determinada cor de pele. Há igualmente misantropia contra quem não tem o mesmo “nível cultural”. As consequências negativas desta postura etnocêntrica, isto é, desta postura cultural de quem acredita na supremacia de uma cultura ou grupo étnico são evidentes nesta sociedade, tais como: o racismo; a xenofobia; o isolamento cultural ou até a própria destruição de culturas minoritárias.
Com efeito, a misantropia pode ser apenas um desprezo como aquele que diz que prefere os bichos aos homens ou pode ser o ódio, violento e assassino de alguém que pensa e executa o plano de matar dezenas e até centenas de pessoas num ataque.
Deste modo, não restam dúvidas de que existem diversos graus de aversão ao ser humano, por características que podem ser sociais, culturais, intelectuais, morais, espirituais ou até religiosas. A solução para a misantropia será, então, o seu oposto: Omnia amor vincit (O amor vence tudo).


Um corrupio de emoções na vida dos idosos (EFA 16)




REPORTAGEM

Lar de São Martinho 


A ida para o lar, nos nossos dias, ainda não é bem encarada, muito se deve ao facto de em Portugal ainda se ter a visão de que os lares são “depósitos de velhos”, onde os nossos idosos são abandonados pelas famílias para ali acabarem as suas vidas, sem qualquer controlo sobre si próprios.
No lar de S. Martinho, situado numa pequena aldeia nos arredores da cidade de Viseu, como também é conhecido o lar desta IPSS, Instituição Particular de Solidariedade Social, Coutoense, vive-se um dia de cada vez. Há quem tenha já quase desistido de viver e quem tenha encontrado o verdadeiro amor. Todos têm noção que o último dia chegará ali, dentro daquelas paredes vazias e despidas das histórias das suas vidas, mas cheias de conforto e de carinho de quem lhes não é nada.



A Associação de Solidariedade Social, Cultural e Recreativa Coutoense, nasceu em 1983 com a finalidade de criar e manter o espírito de fraterna amizade e solidariedade entre os associados.
Atualmente a Associação Coutoense tem três respostas sociais dedicadas à terceira idade, mais concretamente, Centro de Dia, Serviço de Apoio Domiciliário e Lar de Idosos. Possui igualmente duas valências destinadas à infância, Jardim de Infância e ATL.


As rotinas diárias são sempre iguais. Todos os dias no Lar de S. Martinho a partir das sete horas da manhã é hora de recomeçar as primeiras tarefas do dia. De uma forma rotineira começa-se logo cedo pelos cuidados básicos de saúde, de higiene e de conforto a todos os idosos. As refeições equilibradas e sempre em horários rigorosamente cumpridos são também uma das preocupações desta instituição.
“Não é um trabalho fácil! Há momentos em que se tem de “tomar” uma dose extra de paciência, pois às vezes não é como se quer, não é simples… mas quando se faz as coisas com amor tudo parece mais fácil, e ao fim até acabamos por brincar e rir com as situações por mais absurdas que nos possam parecer…” “Acaba por ser uma honra poder cuidar de pessoas tão vulneráveis, que precisam tanto de nós, do nosso carinho e da nossa atenção. Acabamos, quase sem querer, considerá-los nossos, como se fossem da nossa própria famíliacomo nos explica Isabel Santos, auxiliar a trabalhar no Lar desde junho 2012.     
 “Trabalhar num lar, não é para qualquer um…é preciso dar muito de nós, e quando digo isto, não é dar o esforço do trabalho, mas sim o carinho e a atenção que eles tanto precisam. Eu gosto de aproveitar qualquer bocadinho que tenha para estar com eles, ouvi-los nem que seja quando lhes estou a prestar os cuidados de higiene ou a alimentá-los. Eles sentem-se bem ao serem ouvidos...”
Laurentina Rodrigues, 80 anos, utente do lar desde novembro de 2015, já um pouco impaciente por ainda estar na cama, acaba por desabafar connosco, enquanto não chega uma auxiliar para lhe prestar a ajuda necessária. “Felizmente, eu não necessito de muita ajuda, ainda tenho forças para me levantar, lavar e vestir, mas no entanto as meninas não passam sem vir dar uma mãozinha, e ainda bem porque as minhas dores não me largam!...”
Há muito que fazer, mas nos corredores transparece uma calma que contraria toda a azáfama envolvente. Todo o trabalho é feito metodicamente para que não se perca tempo e não haja atrapalhação. Enquanto umas auxiliares continuam a cuidar da higiene dos idosos, outras vão tratando da primeira refeição do dia. Ouvem-se diálogos sem sentido, algumas frases descoordenadas. Os mais lúcidos escutam, os menos impacientam-se.
No meio de toda a “correria”, numa luta contra o tempo, perguntámos novamente à auxiliar que nos acompanhou sempre com um sorriso no rosto: Tem paciência para ouvir “as suas histórias de vida”? Paciência? Tenho! Muitas vezes não tenho é tempo…”
Tudo é pensado ao pormenor! Desde os cuidados de saúde, as refeições equilibradas, os cuidados de higiene básicos, não esquecendo, o incentivo permanente para que estes idosos se mantenham ativos tanto física como mentalmente. Esse trabalho é feito em grande parte pela animadora que todos os dias procura encontrar atividades e estratégias diferentes com o intuito de manter os seus utentes ativos e sempre ligados às suas raízes, promovendo-lhes assim um envelhecimento ativo.
Todos os recursos disponíveis na pequena comunidade são canalizados para proporcionar momentos diferentes aos idosos deste Lar desde as várias atividades entre gerações com os meninos do jardim e do ATL, grupos de jovens que vêm cantar e representar, sessões de fado, grupos corais, entre outras atividades, como nos relata Dora Lemos, 33 anos, Animadora, a trabalhar no Lar desde 2013.
 “Tanto no lar, como na valência de centro de dia, promovemos diariamente diversas atividades com os idosos, desde pintura, dança, música, jogos tradicionais, jogos de estimulação cognitiva, contos, pequenas histórias, teatro, culinária, cinema, ginástica (duas vezes por semana, orientada pelo professor de ginástica) entre muitas outras, temos um leque muito diversificado…assim podemos agradar a todos!”
Laurentina Rodrigues, quem a vê não lhe dá os 80 anos que o Bilhete de Identidade confere, deixa transparecer uma enorme vitalidade e energia. Depois do pequeno-almoço vou para a sala de atividades. Tenho sempre que fazer, desde pinturas, escrita, jogos em grupo, cantar…eu gosto tanto de cantar, quando veio cá a fadista foi tão bom!…nunca estou sem fazer nada, assim ajuda-me a passar o tempo sem ter de pensar nas dificuldades que passei antes de vir para o lar. Estava sozinha em casa. Os meus filhos têm a vida deles e estão longe, de oito filhos que tenho estão todos emigrados, embora me ligassem todos os dias, sentia-me só e a minha saúde também já não ajuda...”
Até à hora de almoço, enquanto as auxiliares se encarregam da limpeza dos quartos e partes comuns, há sempre um tempinho para auxiliar os utentes que necessitam de outro tipo de cuidados. A equipa de saúde “faz a ronda” aos que precisam de cuidados mais exigentes.
 Alguns dos idosos são encaminhados para a sala de convívio, onde não é permitido desistir dos movimentos básicos, como andar. “Toca a mexer!” ordena o professor de ginástica. Movimentos de ginástica que tentam estimular a apatia em que muitos se encontravam antes de entrar para o Lar.
Com um brilho no olhar, a animadora Dora Lemos ainda refere que  “ocasionalmente, organizam saídas ao exterior, visitam lugares de interesse para os utentes e com mais frequência até fazem uns piqueniques… São sempre momentos de alegria e convívio também com as funcionárias.
“Todas as semanas há também um momento especial para os mais devotos… É-lhes proporcionado o momento de oração onde rezam o terço e onde lhes é dada a comunhão. Esporadicamente celebra-se a missa nas instalações do Lar presidida pelo pároco da freguesia. É mais uma forma de abrir portas à comunidade.”
A partilha é sinal de confiança no trabalho desta instituição…e essa confiança conquista-se através de um grande trabalho em conjunto, sempre em prol do bem-estar e da satisfação dos seus utentes, assim como dos seus familiares.
Surgiu assim a iniciativa “Instituição Aberta”. A porta deste Lar foi aberta aos familiares e à comunidade envolvente para os muitos momentos de grande confraternização como a “Festa da Família”. Emocionada a Animadora conta que esta festa surgiu há mais ou menos três anos, parece pouco, mas é quase o tempo da nossa existência, pois a valência do lar só abriu em Maio de dois mil e doze, com o intuito de responder ao nosso grande objetivo que era envolver os familiares no nosso dia-a-dia. E a meu ver acho que estamos a conseguir! Tal como diz o nosso slogan “Servir para cuidar, porque juntos cuidamos de vidas”…e porque o caminho se faz caminhando, vamos todos caminhar juntos!”
A participação dos familiares na vida dos idosos e na orgânica da instituição é fundamental para que haja uma perfeita adaptação da pessoa institucionalizada, assim como uma base de confiança entre instituição, utente e família.
No Lar de São Martinho o jantar é começado a servir às dezanove horas da tarde.  Uma auxiliar vai distribuindo a refeição, enquanto outra, para que não haja enganos, vai dando a medicação obrigatória. Enquanto iam servindo os mais impacientes, sim porque a hora de deitar é sagrada e todos querem ser os primeiros, perguntámos à auxiliar há quanto tempo trabalhava no Lar e se tinha algum curso de geriatria. “Para tratar de idosos é preciso, acima de tudo, sermos muito humanos. Depois ter muita paciência, claro. É um trabalho muito cansativo, tanto ao nível físico, como psicológico. Mas gosto muito do que faço!”
É hora de começar a deitar. Mais uma vez são feitos os cuidados de higiene e depois do pijama vestido é hora de apagar a luz, mas antes ainda há tempo para um carinho e os desejos de uma boa noite.
Laurentina Rodrigues já está pronta para se enfiar na cama. Se não fossem as atividades ao longo do dia, a rotina era sempre a mesma. Mas as atividades não deixam haver rotinas iguais. Embora me sinta bem aqui, pois tenho todo o conforto e carinho, não esqueço a minha casinha. Mas sei que assim os meus filhos estão mais descansados, pois sabem que me tratam bem.”
Amanhã haverá rotinas que se repetem... Os dias passam iguais.... O relógio não pára… Todos tiveram vidas e vivências diferentes. Todos sorriram, sofreram, amaram e foram amados. Mas todos, sem exceção, sabem que um dia tudo acaba. Tal como nos filmes, surgirá no ecrã a frase “THE END”.

Aurores: Sandra Figueiredo e Marco Almeida

Uma vida inteira (EFA 16)


REPORTAGEM
Aumento da esperança média de vida
Década após década, a esperança média de vida em Portugal e no resto do mundo tem vindo a aumentar. Em 1960 a esperança média de vida em Portugal estava pelos 62 anos, em 2012 já se encontrava nos 80 anos, uma diferença de 18 anos que se deve a muitos fatores. Um aumento contínuo da esperança média de vida explicado pela melhoria nos serviços hospitalares e de saúde, por melhores hábitos alimentares, por uma maior atenção aos cuidados de higiene, outras condições de segurança no trabalho, sem esquecer as habitações com diversas infraestruturas.
Tudo isto se deve também a uma enorme vontade por parte das pessoas (especialmente idosos) que fazem muitas das vezes planos diários para prevenirem doenças, praticando mais exercício físico dentro das suas próprias limitações.

Rosa, António e Joaquim. Para além de se conhecerem e de pertencerem à mesma família, partilham de algo em comum. Uma já vasta experiência de vida que mais ninguém possui na família, mas agora, as coisas são diferentes. As pressões sociais e os compromissos laborais fizeram da sociedade uma autêntica corrida em busca do sucesso pessoal e profissional. Uma sociedade moderna que só há pouco tempo conheceu a 3ª idade, mas que talvez ainda não tenha aprendido a viver com ela.
Fomos ao encontro de Rosa, António e Joaquim que nos falaram um pouco sobre as suas vidas, como é vivido o seu dia-a-dia atualmente e as diferenças entre o antigamente e a atualidade.
Joaquim
“Ao contrário de Hoje que é tudo fácil”
Joaquim, um homem marcado pelas dificuldades sociais e económicas próprias da época, recorda com alguma saudade a sua juventude.

«Antigamente, não era nada assim. Quando andava na escola, tinha que fazer vários quilómetros a pé. Ainda me lembro de fazer o percurso que ligava o vale da vinha até à Ferraria, descalço! Eram outros tempos, não era nada como é agora, ou pensas o quê? Tu, agora tens dois ou três pares de calçado. Mas na minha altura, ter algo para calçar já era bom. Por andar descalço, fui picado por um lacrau duas vezes. As dores eram horríveis, mas lá me aguentei, também de qualquer modo o hospital mais perto era em Ponte de Sor, que ainda ficava um pouco longe, era um bocado complicado ir ao hospital ao contrário de hoje, que é tudo fácil. Quando eu e a minha mulher nos casamos, foi uma grande festa lá na nossa terra, no Alentejo. Com o casamento, recebemos dos nossos padrinhos mais ou menos uma quantia de cem escudos, uma quantia já considerável para a altura e depois tivemos direito a uma lua-de-mel, fomos até Setúbal. Recordo com alguma saudade tudo isso, mas não sei se voltava atrás. Tudo o que eu e a minha esposa construímos e vivemos é insubstituível.
Se acho que a vida hoje é melhor? Sem dúvida que a vida hoje é melhor, porém depende muito de alguns aspetos. Antigamente, trabalhávamos muitas horas e o trabalho era mais duro, porque não havia tantas máquinas para nos ajudarem, mas apesar de tudo as pessoas eram mais unidas do que hoje, fazíamos dos nossos dias de trabalho uma romaria até aos campos de arroz, havia alegria e a mocidade parecia mais descontraída, ao contrário do que hoje acontece. Estão sempre com pressa para ir para o emprego e com receio de que as coisas corram mal.»
António
“Fui um bom marido, nunca bati na minha esposa”
Ao contrário de Joaquim que nos falou das dificuldades do trabalho e dos acessos aos hospitais, António recorda as diferenças existentes no matrimónio, na época em que se casou.

«Fui um bom marido, nunca bati na minha esposa, que faleceu há quatro anos atrás. Conheci muitos homens que baterem nas suas mulheres. Fui guarda-republicano, e na GNR tinha vários colegas que tratavam mal as suas mulheres. Antes de me casar com a Maria da Graça, ela própria me fez assinar um acordo em que nunca a poderia obrigar a trabalhar e também nunca a poderia tratar mal. Na altura era algo comum os homens terem algum poder sobre as suas esposas, poder esse que em muitas situações era confundido com o poder de usar a força ou a violência nas palavras. O homem era o chefe da família, hoje já não é bem assim».
Rosa
«A minha querida mãe morreu enquanto me amamentava, sentada numa cadeira, tinha 22 anos. Mais tarde disseram-me que foi qualquer coisa parecida com um AVC, mas que não tinham bem a certeza. Já passaram muitos anos. Apesar de não ter crescido com ela, tenho muitas saudades, parece que ela esteve sempre aqui, ou como se tivesse vivido sempre com ela.
Trabalhei muito, desde pequena. Trabalhava no campo desde o amanhecer até ao final do dia e não importava se era ainda nova para trabalhar. O meu pai era um bocado rígido, uma pessoa um pouco fria, talvez devido ao facto de ser guarda de uma herdade muito grande pertencente a famílias muito ricas e importantes do Alentejo. Mas penso que não era por o meu pai ser uma pessoa rígida que eu já trabalhava, na altura era mesmo assim, começávamos a trabalhar desde cedo. Ao contrário de ti, que és preguiçoso e ao fim de semana dormes quase até ao meio dia. O meu pai era também uma pessoa um pouco diferente das outras, eu não sei bem, mas acho que chamam a isso contrabando e ele era contrabandista. A primeira televisão que existiu ali na zona foi o meu pai que a foi buscar a Espanha através do contrabando. Ele viajava várias vezes, atravessava a fronteira sem ninguém saber. A minha madrasta costumava dizer para os nossos mais chegados que se demorasse mais do quatro ou cinco dias é porque tinha sido apanhado pelos guardas ou então por lá tinha morrido. Houve uma vez que demorou duas semanas, já todos esperávamos o pior, mas lá apareceu e foi dessa vez que trouxe a televisão. Na altura não conhecia ninguém que tivesse uma televisão, era diferente de hoje que se for preciso existe uma televisão em cada quarto. O meu pai era também proprietário de um café lá na aldeia e quando trouxe a televisão, acreditas que faziam autênticas romarias vindas de aldeias próximas até ao café do meu pai só para ver a televisão, aquilo é que era uma festa! O meu pai só ligava a televisão uma ou duas ou vezes por dia, quando dava o noticiário e depois desligava, acho que não dava mais nada também. Na altura do Natal, as pessoas que andavam a combater no ultramar, emitiam um comunicado via televisão para as famílias em Portugal, e o comunicado começava a passar um mês antes do Natal chegar, dava todos os Domingos se a memória não me falha, aquilo é que era fazer excursões de todas as aldeias até ao café do meu pai para verem o familiar aparecer na televisão! Se ele não aparecesse, era porque possivelmente tinha morrido por lá».
Pinturas de Daniel Barreiros. Gosta de pintar rostos de pessoas idosas, pois acredita que têm algo mais para nos contar. (As pinturas estão protegidas por direitos de autor).
«Sempre gostei de trabalhar e desenvolver o retrato. Principalmente, pessoas mais velhas. Acredito que escondem algo no olhar, que elas próprias não querem ou não sabem como contar. Pessoas nas faixas etárias mais avançadas possuem quase todas, esse olhar único, um olhar que só de observarmos, nos proporciona uma história psicológica que nos entra e contagia, se tivermos a mínima paciência para a observar e entender claro.

Em Portugal é bastante fácil encontrar idosos com esse olhar. Aliás, Portugal é um país antigo e de antigos. O avanço da medicina, a prestação de apoios à 3ª idade, a alimentação, a facilidade em obter informações, tudo isso contribuiu para o aumento da esperança média de vida, mas a 3ª idade requer atenção, uma atenção que por vezes é escassa. O idoso quer e necessita de atenção e esse é o grande problema do quotidiano da 3ª idade em Portugal, ou não.


 Autores: Daniel Barreiros, José Santinha, Jéssica Rodrigues, Carolina Silva